Excesso de telas na infância prejudica aprendizado na escola e traz problemas na vida adulta
Existem inúmeros desafios no ensino que já são conhecidos e recorrentes. Um deles é como lidar com as novas tecnologias. Afinal, as crianças são expostas desde cedo as telas. Muitas não saem de perto do celular, televisão, tablets e computadores. Embora seja algo interessante para entretenimento, o excesso dessas telas pode trazer riscos a curto e longo prazo.
Esse foi o assunto abordado pelo diretor de escola e vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná (Sinepe), Haroldo Andriguetto Júnior. Ele foi entrevistado durante o programa Bem na Pauta, que está disponível no Youtube do Estúdio do Bem Paraná.
Na visão do professor, a missão da escola, que, entre tantas outras, está em formar seres humanos e desenvolver a dimensão social, motora, psíquica e emocional, sendo o maior laboratório de vida aos estudantes, está em risco.
A tão nobre “preparação para a vida em sociedade” está mais difícil de acontecer se as escolas continuarem a receber crianças com alto e prematuro consumo de telas. Para ele, as famílias não podem fechar os olhos para um problema como esse.
“O principal problema é que as pessoas acham que as vezes a tecnologia por estar diante de tantas pessoas seria uma inimiga da escola. Quando na verdade ela é uma aliada! O problema está no excesso de telas”, disse
Um estudo feito pela OPE Educação, uma empresa que produz conteúdos educacionais, aponta que 90% das crianças foram expostas ao excesso de telas nas tecnologias. A pesquisa utilizou análise de professores.
Como saber se as crianças foram expostas ao excesso de telas?
Haroldo destaca que existem diversos sinais que tanto pais quanto educadores conseguem perceber sobre a exposição ao excesso de telas.
“Desde postura, sinais somáticos que a gente diz que são posturais, problemas de visão, obesidade, esses são alguns sinais. Ansiedade, às vezes um isolamento, a criança que vai ficar muito sozinha em si, em sala de aula, um não tem a habilidade de conversar com um e o outro”
Outro sinal de excesso de exposição está na reação da criança quando os pais estabelecem limites.
“Em casa, se você tira o celular dele, ele muda de humor? Fere você com palavras? Ele busca uma chantagem com você? É sinal que aquilo está consumindo ele a tal ponto de ficar dependente”, explica
“Nasceram no digital”
Uma frase comum no senso comum e que tem sido replicada é que as crianças “nasceram em um ambiente digital” e que por isso a tecnologia não deve ser um problema. Eles fazem parte de uma geração de nativos digitais, fluentes no manejo e na compreensão de ferramentas tecnológicas.
“Nós temos tanto os riscos somáticos, que são aqueles que os pais veem, os riscos emocionais, que são aqueles de ansiedade, estresse e, consequentemente, os riscos cognitivos”
Exposição de tela
O pesquisador francês e especialista em neurociência cognitiva, Michel Desmurget, alerta que as crianças ocidentais de até 2 anos têm ficado quase 50 minutos por dia em frente à tela. Entre 2 e 8 anos, esse tempo aumenta para quase três horas e, até 12 anos, o tempo gira em torno de cinco horas por dia.
De 13 a 18, o escândalo é maior, perfazendo um montante de quase oito horas. Se considerarmos um ano, contas simples nos levam a mil horas para um aluno de Educação Infantil (1,4 mês de tela), 1.700 horas para um aluno de Ensino Fundamental (2,4 meses) e 2.650 horas (3,7 meses) para um aluno de Ensino Médio. Em 18 anos de vida, essa conta equivale (pasmem!) a 30 anos letivos de telas.
Adultização
Um termo que tem sido usado por pesquisadores para descrever a geração Z é a “adultização” das crianças.
“Há tamanha imersão em conteúdos inapropriados que levam eles a ter visão de mundo, ponto de vista, opiniões e as vezes até certezas. São convicções que não são apropriadas para a maturidade deles”
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